quinta-feira, 26 de julho de 2012

DICOTOMIA

O ser humano encontra muitas dúvidas e incertezas ao longo de sua vida. Muitas vezes não encontra uma solução ou resposta que lhe assegure segurança. Alguns princípios, ideologias, práticas diárias, dogmas religiosos, todas estas questões são postas à prova em muitos questionamentos. Ideal seria se, para cada dúvida, só houvesse duas opções de resposta na dicotomia: ou é ou não é! Logo, a dicotomia poderia ser representada pelo sistema binário (zero e um) utilizado pelos computadores e, assim, toda pergunta teria a seguinte combinação de resposta: sim ou não; certo ou errado; verdadeiro ou falso; bom ou ruim; dia ou noite; masculino ou feminino, trevas ou luz, vida ou morte, Deus ou diabo ... A partir deste raciocínio, seríamos pessoas extremamente inflexíveis, frias, sem coração, chatas até, com raciocínio apenas lógico, com decisões tomadas ou no THEN BEGIN ou no ELSE BEGIN da programação IF... Em contrapartida, teríamos total segurança nas nossas afirmações, sem probabilidades, sem incertezas, pois seria sempre necessário escolhermos apenas uma opção de resposta dentre duas, tal qual as questões dicotômicas. Partindo desta premissa, não haveria espaço para polêmicas, nossa sabedoria nunca iria "balançar", nossa convicção não deixaria margem para debater melhor o assunto - que perda de tempo debater algo inquestionável. Nossa memória robotizada já teria a resposta armazenada em BIT - Binary Digit, ou seja, ou é zero ou é um. Assim, não haveria espaço para "às vezes", "pode ser", "nem sempre", "quase", "em cima do muro", "provavelmente", "cada caso é um caso" ... Entretanto, a própria sabedoria nos ensina que os homens são diferentes dos computadores, a própria ciência nos revela que o conhecimento é falível, com verdades e evidências que apenas nos aproximam da certeza, mas nunca de forma 100% segura. Mais do que isso, a unanimidade é burra, cega e bisonha. Mesmo quando afirmamos algo, sempre haverá alguém que poderá pensar: há controvérsias! Isso se torna saudável à medida que a humildade e simplicidade nos faz pensar antes de afirmarmos algo, de que podemos errar, mesmo próximos da certeza deste algo. Mas e se insistirmos na busca do conhecimento de tal forma a alcançar a dicotomia? Como seria? Haveria resposta matemática e lógica para tudo? Quantas questões que demoramos a vida inteira para ter uma resposta plausível, mas que gostaríamos de responder de forma absoluta? Por exemplo: se existe céu e inferno e o céu é para onde vão as almas após a morte, então fazendo uma análise dicotômica, o inferno é aqui na terra. Se a única coisa que vai para o céu é a alma, o corpo fica aqui na terra, então é porque a alma é de Deus e o corpo físico é adorno do diabo, os prazeres da carne são coisas do mal. Se buscamos mais coisas prazeirosas do corpo ou usamos mais o nosso tempo na preocupação com coisas que só são usadas na terra, então indubitavelmente estamos valorizando mais o senhor das trevas, o que só vive na terra, que usa as tentações da carne para seu intento, não há como negarmos, dicotomicamente falando. Assim, penso que a verdadeira felicidade é entender isso muito antes do final da vida, mesmo com o inferno presente aqui na terra, visto todos os dias em todos os veículos de comunicação, seja com violência, seja com exploração midiática dos prazeres do corpo e alienação bárbara que os bens materiais provocam nas pessoas. Existe um fortalecimento muito grande da alma: o sorriso do teu semelhante! Isso é sentimento, é energia, não tem nada a ver com posses! Dicotomicamente falando, não há como servir a Deus e ao dinheiro...

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