Hoje, recebi (gratuitamente) uma revista com um nome em inglês (em português não causa impacto) e fiquei bastante impressionado... coisa “fina”, com uma capa plastificada, figuras internas com excelente qualidade, material muito bom mesmo... a frustração é somente no conteúdo, pois é um puro manifesto do EGO, O FALSO CENTRO. Obviamente que este “ensaio” não é uma crítica à revista, mas sim ao modo alienante da exacerbação do ego, cada vez mais angustiante e sufocante, e o EU, O CENTRO VERDADEIRO, pede socorro. Para entender melhor, o primeiro ponto é distinguir o EGO e a diferença deste para com o próprio EU.
Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. A primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros. Todos esses sentidos abrem-se para fora. Assim, quando uma criança nasce, ela abre seus olhos e vê os outros. Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Este também é o outro, também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo.
Com o passar do tempo, pouco a pouco, a criança se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente do que a mãe pensa a seu respeito: Se a mãe sorri, se ela aprecia a criança, se esta mãe diz "você é bonita", se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. A partir daí, um EGO está nascendo. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro também é um centro refletido. Ela não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito. Logo, o EGO não pode ser o verdadeiro centro, é algo que os outros passam pra você.
E esse é o EGO: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida; sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é o ego. Isso também é um reflexo. Isso, muitas vezes, causa estresse e até depressão (tudo por causa de um falso centro).
Primeiro a mãe - e mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas. O ego é um fenômeno acumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal.
No entanto, isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro EU, não. Como na expressão booleana da matemática, o Verdadeiro só pode ser conhecido através do Falso. Portanto, o ego é uma necessidade (infelizmente). Temos que passar por ele. O verdadeiro pode ser conhecido somente através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é Verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.
Muito bem, sabemos agora que o ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor; não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá para a escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estão adicionando algo ao seu ego, e todos estão tentando modificá-lo, de tal forma que você não se torne um problema para a sociedade.
Mas cuidado: Eles (os outros) não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade e na perpetuação das coisas que interessam a esta sociedade e é assim que deve ser. Ela não está interessada no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhe que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim, estão tentando dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade, para eles, significa dar-lhe um ego que se ajustará à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro.
Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. Nesta sociedade alienadora, toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes, ajustados à moralidade desta mesma sociedade. Assim, a sociedade se perpetua.
A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O EU nunca poderá ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o EU - isso não é possível. E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança, pouco a pouco, fica convencida de que este é o seu centro, o ego dado pela sociedade. Mas este é o falso centro.
O menino volta para casa e, se ele foi o primeiro aluno de sua classe, a família inteira fica feliz. Você o abraça e o beija; você coloca a criança no colo e começa a dançar e diz: "Que linda criança! Você é um motivo de orgulho para nós”. Pronto: Você está dando um ego a ela. Um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, um fiasco - ela não pode passar, ou ela tirou o último lugar - então ninguém a aprecia e a criança sente-se rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado. O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. É por isso que você está continuamente pedindo atenção. Conclui-se, portanto, que são os outros que modelam o seu centro. Esse centro é falso, porque você contém o seu centro verdadeiro. Este não é da conta de ninguém. Ninguém o modela, você vem com ele. Você nasce com ele.
Assim, você tem dois centros: Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Este é o EU. E o outro centro, que lhe é dado pela sociedade: o EGO. Ele é algo falso - e é um grande truque. Através do ego, a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente então a sociedade o aprecia. Você tem que caminhar de uma certa maneira: você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um “certinho”. E se você tiver posses, você é VIP. Somente então a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, quem você é. Os outros lhe deram a idéia. Essa idéia é o ego.
Tente entendê-lo, o mais profundamente e o mais rapidamente possível, porque ele tem que ser ignorado. E, se você não o ignorar, nunca será capaz de alcançar o EU. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o EU. E lembre-se, vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará despedaçado, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo, criará um caos. Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos, do sacrifício, da dificuldade, antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas.
Se você, portanto, puder identificar este narciso ego e for corajoso para não voltar a cair neste maniqueísta ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esta é a sua alma, o EU. Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos; nasce uma nova ordem. Mas esta não é a ordem da sociedade - é a própria ordem da existência. É o que Buda chama de “Dharma”, Lao Tsé chama de “Tao”, Heráclito chama de “Logos”. Não é feita pelo homem nem construída pela sociedade. É a própria ordem da existência, é o DEUS. Sim, tua alma é o teu próprio Deus.
A diferença entre o EU e o EGO é a mesma que existe entre uma flor verdadeira e uma flor de plástico ou de papel. O ego é uma flor de plástico, morta. Não é uma flor, apenas se parece com uma flor (reflexo). Até mesmo lingüisticamente, chamá-la de flor está errado, porque uma flor é algo que floresce. E essa coisa de plástico é apenas uma coisa e não um florescer. Ela está morta. Não há vida nela. Você tem um centro que floresce dentro de você. Mas você está satisfeito com um ego de plástico.
Existem algumas razões para que você esteja satisfeito. Com uma coisa morta, existem muitas vantagens. Uma é que a coisa morta nunca morre. Não pode, até porque nunca esteve viva. Assim você pode ter flores de plástico e, de certa forma, elas são boas. Elas são permanentes; não são eternas, mas são permanentes. Já diria uma música dos Titãs: “as flores de plástico não morrem...”
A flor verdadeira, a flor que está lá fora no jardim, é eterna, mas não é permanente. E o eterno tem uma maneira própria de ser eterno. A maneira do eterno é nascer muitas e muitas vezes... e morrer. Através da morte, o eterno se renova, rejuvenesce. Assim, dizemos que DEUS é eterno, pois ele sempre se renova, rejuvenesce nossa alma.
Mas não podemos ver a continuidade porque a continuidade é invisível. Vemos somente uma flor e outra flor, sempre diferentes; nunca vemos a continuidade. Trata-se da mesma flor que floresceu ontem. Trata-se do mesmo sol, mas em um traje diferente.
O ego tem uma certa qualidade - ele está morto. É de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não o precisa procurar; a busca não é necessária para ele. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo, alguém de valor. Você é simplesmente uma parte da multidão. Você é apenas uma turba. Quando você não tem um centro autêntico, como você pode ser um indivíduo? O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade consumista, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, teus bens lhe dão uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com esta “posição social” (aquela estampada na magnífica revista, nas páginas centrais dos jornais), você perderá toda a oportunidade de encontrar o EU.
Jovens que estão à mercê da alienação pelo ego, com uma vida de plástico, “bombados e sarados”, como podereis serem felizes? Com uma vida falsa, alienada ao mundo fácil da flor de plástico? Vocês nunca perceberam que os tipos de tormentos acontecem através do ego?? O ego é o inferno, refletido nos SETE PECADOS CAPITAIS. O ego é o próprio satanás.
O ego entra em conflito com outros egos, continuamente, porque cada ego está inseguro de si mesmo. Tem que estar mesmo - ele é uma coisa falsa. Assim, você tem que se defender e lutar - este é o conflito. Um homem que alcança o EU nunca se encontra em conflito algum. Outros podem vir e entrar em choque com ele, mas ele nunca está em conflito com ninguém.
O ego sempre está procurando por algum problema. Por quê? Porque se ninguém lhe dá atenção, o ego sente fome. Ele vive de atenção (quer melhor exemplo do que daquela “personalidade” que deixou de ser famosa? Um caos!). Assim, mesmo se alguém estiver brigando e com raiva de você, isso é bom, pois você está recebendo atenção. Se alguém o ama, isso está bem. Se alguém não o está amando, então até mesmo a raiva servirá. Pelo menos a atenção chega até você. Mas se ninguém estiver lhe dando qualquer atenção, se ninguém pensa que você é alguém importante, digno de nota, então como você vai alimentar o seu ego?
Percebemos que as pessoas que valorizam o seu “EU” nunca aparecem, não estão na mídia. Não fazem de tudo para alimentar o ego, para aparecer nas chamadas “colunas sociais” (ah, sim, isso é coisa daquela mesma sociedade que alimenta os egos, aquela revista que foi citada lá no primeiro parágrafo).
Lembre-se: não há necessidade de abandonar o ego. Aliás, não há como abandonar definitivamente o próprio ego. Se você o tentar abandonar, estará apenas conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: "Tornei-me humilde". Não tente ser humilde. Isso é o ego novamente. E um homem realmente humilde não é nem humilde nem egoísta. Ele é simplesmente simples. Se você se dá conta de que é humilde, o ego continua crescendo dentro de você.
É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego dos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar. Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente observe. Quanta produção visual!! Quanta flor de plástico!! Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência e tiver sentido, com totalidade, que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, então o verdadeiro centro surge. E este centro verdadeiro é a alma, o EU, o teu próprio DEUS, a verdade, a ETERNIDADE, a simplicidade mais pura que o doce sorriso de uma criança.